24 de maio de 2022
Para finalizar a programação especial do Dia da/do Assistente Social o CRESS/DF lança uma série especial de entrevistas com assistentes sociais do Distrito Federal, em alusão ao tema da campanha do Conjunto CFESS-CRESS “Nós, mulheres, assistentes sociais de luta!”.
A série celebra o protagonismo e a diversidade das trabalhadoras que lutam e resistem contra todas as formas de opressão e retrocessos, desempenhando um papel central no fortalecimento da categoria profissional e defesa dos princípios ético-políticos da profissão.
Para iniciar a série, o Conselho convidou Fernanda da Silva Fernandes, Assistente Social da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB) e ex-presidenta do CRESS/DF (2008 – 2011) para compartilhar a sua trajetória e perspectiva sobre o protagonismo feminino na profissão.
Confira!
Por Natália Teles
Por que você escolheu o curso de Serviço Social e como foi o seu processo de formação?
O Serviço Social não era necessariamente a minha primeira escolha do vestibular. Primeiramente eu pensei em cursar Biologia, mas depois eu acabei fazendo o vestibular para Serviço Social e entrei na Universidade de Brasília (UnB) em 1997. Durante a graduação eu fui muito atuante e participativa, tive uma identificação muito grande com o curso, participei do movimento estudantil e de diversos projetos de extensão e estágios. A participação no movimento estudantil e depois no conselho profissional trouxe uma bagagem que me permitiu ter uma visão mais ampla e mais generalizada da nossa profissão, isso me auxiliou na atuação profissional.
Fale um pouco da sua trajetória profissional.
Antes de ter vindo para a CAESB, há quase 15 anos, eu tive oportunidade de trabalhar em outras áreas do governo federal, no âmbito das políticas públicas na Secretaria de Direitos Humanos, voltado para crianças e adolescentes, no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e no Ministério das Cidades. Tudo isso contribuiu para minha atuação profissional na CAESB, foi toda uma preparação que antecedeu a minha entrada na empresa. Quando sai da esfera federal para trabalhar em uma empresa pública no âmbito do Distrito Federal inicialmente houve uma diferença, porque você sai do macro para o micro, mas tive o apoio de colegas de outras empresas públicas que me receberam e ajudaram, e aqui dentro eu também tive muito apoio para poder desenvolver as atividades. Eu estive por três anos em sala de aula como professora e foi muito enriquecedor. No processo da docência você não vai na perspectiva de transmitir conhecimento, mas de construir, de socializar com o aluno e foi enriquecedor esse período. Ainda mantenho contato com alguns alunos que tive, porque é um processo, fui professora de ética, de estágio, ainda dou algumas palestras e participo de algumas bancas de conclusão de curso, ainda mantenho esse contato com a academia. Também sou dirigente sindical do SINDÁGUA-DF desde 2016.
Como é o seu trabalho atualmente?
Inicialmente eu tive um trabalho voltado para o público interno, os trabalhadores da Companhia, com qualidade de vida, responsabilidade social e empregado aprendiz, hoje eu estou trabalhando com educação ambiental com a comunidade, com as organizações, as escolas, escolas públicas e particulares. Trabalho em uma equipe interdisciplinar, composta por uma pedagoga, uma técnica em saneamento, também tem Engenheiro e Analista, nós temos um trabalho junto à comunidade, nas escolas públicas e privadas, com uma discussão no âmbito da educação ambiental, da água como direito, do saneamento como um serviço público essencial, do acesso, do uso consciente da água e a relação com a saúde, importante para a prevenção de doenças. A redução das desigualdades sociais também perpassa a questão do saneamento, então a nossa atuação profissional, enquanto assistente social, na área de educação ambiental e na área de saneamento, se faz importante nesse aspecto, no trabalho de educação ambiental e gestão ambiental na perspectiva de gestão de resíduos. Estamos retomando as discussões, campanhas e palestras a respeito da gestão de resíduos de coleta seletiva com um trabalho muito bonito e importante do aspecto social e ambiental, que visa mitigar danos à natureza e as futuras gerações.
Tendo em mente o tema do conjunto CFESS-CRESS “Nós, mulheres, assistentes sociais de luta!”, como você observa o protagonismo das mulheres na profissão?
Desde quando eu entrei no curso de Serviço Social e depois como professora eu vi fortemente essa questão da atuação das mulheres, somos a maioria das profissionais do Serviço Social e das usuárias dos serviços. A sociedade traz essa perspectiva de que o serviço social é a profissão do cuidado e traz essa questão cultural da mulher como cuidadora, mas não é só isso. Nós temos um papel importante no planejamento, na organização e na gestão de políticas públicas. Eu não sinto isso aqui na CAESB, mas eu sei que para outras colegas, em outros locais de trabalho, é complicada essa relação.
E como você observa o tema no seu cotidiano profissional?
Somos mães e somos trabalhadoras, a gente vai até a comunidade falar sobre o acesso a água, sobre o cuidado e são as mães, as mulheres que estão ali. Quando você vai falar do óleo na cozinha, do cuidado com o chuveiro você está falando com mulheres, professoras, basicamente são as mães que cuidam do dia a dia. As crianças falam: “minha mãe fala para economizar, para fechar o chuveiro” essa presença da mulher é muito forte no cuidado com a família, então a gente sente isso muito presente, não só no aspecto profissional, mas também social.
Como você observa a precarização e os desafios vivenciados pelas assistentes sociais no exercício profissional?
Aqui na CAESB, quando foi aprovada a lei que regulamentou a nossa jornada de trabalho, prontamente eu tive a minha jornada de trabalho adequada para 30 horas semanais, diferente de outros colegas que tiveram que entrar judicialmente para garantir a sua jornada de trabalho. Eu tive o reconhecimento desse direito aqui garantido legalmente, além de termos garantido por meio de Acordo Coletivo de Trabalho de suporte de qualidade de vida e do programa de saúde. A gente vê que em outros locais, dada a realidade profissional, não há esse suporte. Vemos na saúde, na assistência e em diversos locais de trabalho profissionais em uma jornada extenuante, em situações de uma realidade muito complexa que desgasta fisicamente e emocionalmente as profissionais, então é importante que a nossa jornada de trabalho seja respeitada. É importante que haja valorização das profissionais, não somente do ponto de vista da remuneração, mas também do ponto de vista da saúde física, emocional e das suas identidades, da sua forma de ser, respeitando a questão de raça, de orientação sexual e de identidade de gênero. Eu tenho uma irmã transexual, ela também é assistente social, então eu sei o quanto é difícil se inserir no mercado de trabalho e o quanto é difícil se estabelecer. Acho que todas nós precisamos de reconhecimento, precisamos seguir firmes e florescendo sempre, lutando, mas com ternura.
Como foi sua experiência na gestão do CRESS/DF?
Eu participei do CRESS no início da minha vida profissional, assim, a proximidade com movimento estudantil me trouxe essa proximidade com Conselho, eu participava dos movimentos, das reuniões, das semanas da Assistente Social, das atividades junto com Conselho Federal, com Conselho Regional e com a ABEPSS. Isso me deu uma vontade de estar próxima, de estar discutindo junto os rumos da nossa categoria profissional. Então, inicialmente em 2004 comecei a discutir com outras profissionais, eu vim para gestão (2005-2008) como vice-presidente e em (2008-2011) como presidenta do Conselho Regional e depois fui membro do conselho fiscal (214-2017). Tive a oportunidade de participar da organização do Congresso Brasileiro de Assistente Social, foi um grande aprendizado na minha vida, foi durante este CBAS que conquistamos a aprovação da Lei que regulamentou as 30h semanais. Eu pude lidar com o exercício profissional em diversas áreas, em diversos espaços, lidar com essas demandas, dar respostas e aprender. Cresci junto com o Conselho, todo processo que tive ali com as questões éticas, com o curso de multiplicação Ética em Movimento foi um grande aprendizado que eu carrego. Hoje eu não estou na gestão do Conselho, mas eu estou sempre junto, buscando sempre colaborar com o que for necessário, embora esteja em em outros espaços de atuação e militância.
Qual a importância do Conselho para o fortalecimento da Categoria?
O Conselho tem um papel muito importante na defesa do exercício profissional orientando a respeito das questões referentes ao nosso exercício profissional e também tem um papel importante na fiscalização. Eu brinco que ele não tem o papel de defender o profissional, este é papel do sindicato, mas sim de defender a profissão, no sentido de defender a população de um exercício precário, de garantir um exercício de qualidade. Nós temos que usar o Conselho a nosso favor, temos que acionar o Conselho e somarmos as forças para termos um bom espaço de atendimento, equipe e condições que estão garantidas nas resoluções, na lei de regulamentação, no nosso Código de Ética. Nós somos o Conselho, ele só funciona se nós estivermos juntos, somando.
Assessoria de Comunicação CRESS/DF – 2022
Ainda há tempo, vamos resistir e transformar!